segunda-feira, 17 de março de 2008

Çá?

“Um dia ainda eu hei de morar nas terras do Sem-Fim.”


A identidade não se busca em souvenirs, mas no olhar. O 'tão-mais-complexo-de-entender' olhar.

No cinema brasileiro essa busca pela perspectiva condensou alguns elementos a tentar forjar, em seu suporte, um reflexo do olhar nacional. Busca eterna e ingrata, obviamente. Mas não ausente de descobertas.

Em grande parte somos atualmente, enquanto identidade cinematográfica, “X segundo Y”. X, elemento confuso de uma sociedade também confusa, deve ser buscado por Y enquanto cognição Somos a busca de entendimento das mazelas da nossa sociedade. História Cultural em cinema, em especial seu fascínio pelos 'até então invisíveis'. Que histórias contamos? (Entre elas): De policiais entrando em paranóia, de presidiários se convertendo, de rituais atávicos para um assassinato de motivo difuso, ou naturalidade para um assassino difuso. Em boa medida, brasileiro tem sempre algo do Kafka: o manicômio, o morro, o presídio, a periferia, o sertão. Sistemas que, ao olhar de quem sofre o ato ou atua, são por demais complexos para que ele possa manobrar de qualquer forma próxima ao termo 'livre'.

Narrativa apontável, clara, objetiva e de rápida assimilação. Experimentações ao 'contar histórias' há muito (vide Cinema Novo) não possuem um terreno muito fértil no cinema nacional. Se busca a destruição do medíocre nos detalhes, nas reviravoltas. No que se assimila enquanto 'próximo de nosso olhar ao cotidiano'.

Então: narrativas relativamente simples em sua base e continuidade, mas atenta aos detalhes e interpretando um não-entendimento da estrutura. É como 'contamos' parte de 'nossas' histórias, relação com o 'Nós' dependente da existência dessa tal 'identidade'.


“Me enfio nessa pele de seda elástica e saio a correr mundo”


Agora, vamos falar rapidamente de Tecnocultura. “(...) campo comunicacional enquanto instância de produção de bens simbólicos ou culturais, mas também para a impregnação de ordem social pelos dispositivos maquínicos de estetização ou culturalização da sociedade” (Muniz Sodré). Vamos atentar à denominação 'bens simbólicos e culturais' (chegaremos, espero, mais tarde nos 'dispositivos maquínicos'). Através da tecnocultura produzimos e comunicamos (e produzimos comunicando ou comunicamos produzindo) os bens simbólicos e culturais.

Como o cinema, aquele...com olhar específico.


“Começa agora a floresta cifrada.”


É possível, em meio à globalização (ou globalizações do Morin, que considero mais viável em especial nessa discussão: tomemos a-globalização-Mboitatá-devoradora-de-olhares-alheios como a falada aqui), que os suportes utilizados por produtores periféricos de uma determinada mídia (como o Brasil) possam, em seu diálogo, produzir discursos com elementos regionalizados? Ao mesmo tempo ao contrário: É possível fugir da polifonia e do 'atrelamento ao meio' no próprio discurso?

Seria possível tornar o aspecto comunicacional da Tecnocultura (praticamente ela em si) em um elemento capaz de expressar um 'nós', talvez mais próximo de forma informacional ao mundo porém em boa medida (ainda?) particular?

O que o olho do Macunaíma digital vê?


“E agora, compadre, eu vou de volta pro Sem-Fim.”



PS: Todas as citações em parágrafo solto são de Raul Bopp (Cobra Norato)

PS 2: Este texto é um projeto-de-projeto (um convite?) a discussões futuras envolvendo o mesmo tema. E não está nem próximo de 'produto acabado'.

Abraços.

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